Tuesday, April 26, 2005

Ecos da Revolução


(C) TCA: à sombra de uma azinheiraPosted by Hello

Nos dias de festa há sempre um renovar. Não só no natal ou no ano novo, com as esperanças de paz e de uma vida melhor, mas em todas. Lembrei-me disto ao terceiro cigarro. Afinal era uma promessa cumprida. Ou quase. Era de facto o terceiro dos três que tinha estipulado como limite diário no dia de ano novo. Apaguei-o a meio; ainda não era uma da manhã. Lembrei-me que tinha começado a fumar a 26 de Abril de 74 quando uma tipa grande e feia saiu de um camião de soldados. “Fuma um cigarro, puto. Do que nós precisamos agora é de homens.” A liberdade trouxe-me um vício.

Esqueçamos agora as manifs os cartazes e a pancadaria com os sociais-fascistas. Foram bons esses tempos. Pelos menos havia convicções. Coragem para falar mal dos padres e dos professores e de lhes chamar filhos da puta cara a cara. Era isso que mandavam os camaradas mais velhos e nós, livremente, obedecíamos.

Afinal sempre é possível recordar sem um cigarro na boca. Pudera... ainda está viva aquela primeira queca debaixo das escadas no Liceu. Quem seria a tipa? Bons tempos... Teso que nem um carapau mas feliz.

Olhando para o leitor de MP3 acabadinho de comprar quase solto uma gargalhada ao recordar o dia em que fomos roubar cassetes a mando de um camarada da Associação.

Passou. Passou muito tempo mas apetece-me sonhar de novo. Acreditar que ainda tenho direito à vida. Que nem todas as mulheres são iguais. Afinal ainda só conheci duas que não prestam mesmo. Talvez as outras não fossem assim tão más. Deve ter sido culpa minha; medos desnecessários, vícios do já longo celibato... É isso. Se há trinta anos desobedeci aos velhotes, corri, gritei, bati e levei... e, por insignificante e ilusório que pareça, até senti que ajudei, porque não voltar a acreditar? Amanhã telefono-lhe. Vou ouvir uma musiquinha e dormir. Não preciso de cigarros nem de whisky...

La vie ne fait pas de cadeaux (...)” Ai este Brel e esta maldita tecnologia aleatória. Onde raio está o isqueiro?

luís n. - à luz da noite

10 comments:

wind said...

Bom texto e belos "riscos" teus:) beijos

Isabel Magalhães said...

Gostei das cores e da textura... e das letras! :)

P.S. Andei a ver leitores de MP3; gostei de um "à prova de água" e com rádio. 8 horas de música com pilhas AAA. :) :) :)

Isabel Magalhães said...

Voltei! Fiquei com o este teu trabalho no olhar...
Que dimensões tem? Parece-me pequeno, não sei, mas imagino-o refeito numa tela grande... para aí uns 150 x 150 cms. :)

Ana Russo said...

E que pena que a azinheira continua sem saber a idade, não é ?? Nem os tão modernos leitores de MP3 lhe valem.. :( Bj. Penelope

Azul said...

Vossa mercê não pára de me surpreender! Hoje é pelo texto que escreveu que aqui estou. (O risco é soberbo como sempre) "...apetece-me sonhar de novo. Acreditar que ainda tenho direito à vida. Que nem todas as mulheres são iguais..". Fico contente por o saber a renovar energias meu caro amigo. Que percebeu (finalmente?) que nem todas as tipas que há por ai são sacanas. E sobretudo, que a vida vale sempre a pena, mesmo com desaires pelo meio. Penso excatamente o mesmo, ainda que, pelo que me apercebo seja bem mais nova (mas com experiências tramadas já vividas). Você sempre me inspirou força com os riscos que produz, mas agora confirmo a sua pujança (que afinal tb o habita!) através do que escreveu hoje. Um grande abraço pa si. Desta sua admiradora. Azul.

Anonymous said...

acredito que as mulheres são diferentes! eu sou diferente acredito num simples olhar de um homem e de uma mulher sem sexo pelo meio...

Anonymous said...

acredito que as mulheres são diferentes! eu sou diferente acredito num simples olhar de um homem e de uma mulher sem sexo pelo meio...

Anonymous said...

acredito que as mulheres são diferentes! eu sou diferente acredito num simples olhar de um homem e de uma mulher sem sexo pelo meio...

Anonymous said...

Não te sabia pintor...!!! mas tb porque teria de o saber??? Talvez pelas palavras que tão bem sabes ordenar, numa tela feita de papel, ou de novas tecnologias. Tantas telas deves ter ainda para pintar e palavras para partilhar (rimou, mas sem intenção). Aliciante para a próxima visita. Fica bem,

Pink said...

O isqueiro bani-o quando deixei de fumar ... e às 3 foi de vez! Vai daí não posso valer ao luís :-))Belo texto que espelha uma vivência do 25 de Abril que me é, de algum modo, familiar. A tua pintura ... linda! Um beijo.