Tuesday, May 30, 2006

destinos


(C) TCA Posted by Picasa

___________________________
Este vaise i aquel vaise,
e todos, todos se van,
Galicia, sin homes quedas
que te poidan traballar.
Tés, en cambio, orfos e orfas
e campos de soledad,
e pais que non teñen fillos
e fillos que non tén pais.
E tés corazóns que sufren
longas ausencias mortás,
viudas de vivos e mortos
que ninguén consolará.

¡Olvidémo-los mortos!


Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará
(Tradução de José Nisa)

rosália de castro

Wednesday, May 24, 2006

plêiade


(C) TCA Posted by Picasa

__________________________________________
plêiade. diz. plêiade.
não penses. não definas. diz.
plêiade. uma explosão doce dentro da boca. e no fim
a carícia da língua num roçagar lânguido e lento.
plêiade. o prazer simples e enigmático. dádiva das estrelas
ou de quem descobriu o lugar delas
no gesto de as nomear.
dentro da boca a alumiar o prazer.

r.e., XX, extensa madrugada, mãos vazias

Saturday, May 20, 2006

fuck it, what an ugly sight!


(C) TCA Posted by Picasa
__________________________

observo em ti
a necessidade de crescer
a vontade de amar
o desejo de vencer

vejo em ti
o desespero de morrer
a agonia de falhar
o pavor de perder

é… em ti não observo nem vejo grande coisa

(C) Black Rider, sangue na navalha; Luís F. Simões, neo-normal
também aqui: subversos

Tuesday, May 16, 2006

angústia para o jantar


(C) TCA Posted by Picasa
___________________________________________________

deixa aí o sentido
todas as árvores se alimentam da terra
e das estrelas se retira a sede de comer
as trombas aos elefantes enterrados

falos grandes como o passo do bêbedo ocluso
eclipsado na bonomia com que coze as suas entranhas
numa espiral de sonho de pesadelo onde
falas de grandes árvores
de geometrias paralelas para lá do abismo do tédio

as mãos de quem sofre estão manchadas de desejo

(C) holocausto

Thursday, May 11, 2006

at the mirror


(C) TCA Posted by Picasa
_______________
Se achas
que a tua dor é maior,
enganas-te.
Se pensas
que o teu reflexo do espelho
é mais ingrato,
erras perpendicularmente.
Se sentes
que as tuas marcas rasgaram
mais profundamente,
tens uma falha romba.
Se crês mais intenso o azul
que te abandona a alma
é daltónica a tua fé.

O que tens a mais?

Um monstro verde que te consome
E te faz tremer o nariz
Com medo e sem frémito
A falha da má actriz
Abre os olhos, vive a vida com fome
Aprende o sabor da coragem
E o conforto do mérito.

almas desorientadas, uma andorinha voando no invervo
_______________


(C) TCA Posted by Picasa

Wednesday, May 10, 2006

a luz, aos domingos


(C) TCAPosted by Picasa
______________________________
Apaga-se a luz
nos dias compridos
sem um “ai Jesus!”
sem sinal da cruz
nem som de gemidos.
É a luz que se apaga
e não digo um ai
não perco os sentidos
nem falo da chaga
que por vezes mói
nem procuro paga
p’los dias doridos.
Deixa, a luz apaga
eu vivo sem ela
acendo no peito
o sol duma vela
pequena, a preceito
dos dias compridos
em que a luz apaga
sem som de gemidos.

Apaga-se a luz, lique, mulher dos 50 aos 60

Sunday, May 07, 2006

Wednesday, May 03, 2006

sacred


(C) TCA Posted by Picasa

_______________________________________
Abraso, vermelha de sangue e raiva.

Escrevo a quente como se malhasse em ferro à boca do fole.
Mas, a palavra martelada já não molda, como gostaria, os dias que vou andando.
Não, não é prudente pensar a quente, falar a quente, escrever a quente.
Eu sei.
Fervilham as emoções, estoira o ódio, ressoam os gritos.

Escrever a quente é malhar em ferro frio:
parece que dobra a preceito...
e, de repente,
quebra sem jeito...

a quente, anna, brincos de palavra

Tuesday, May 02, 2006

ó fome ...


(C) TCA Posted by Picasa

_______________________________
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada

E a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa, Poesia