Sunday, October 29, 2006

enganar a dor


(C) TCA
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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Autopsicografia, Fernando Pessoa

Monday, October 23, 2006

vulva


(C) TCA
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O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.

Cosmocópula, Natália Correia
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(C) TCA

Monday, October 16, 2006

aprende-me


(C) TCA

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Ensina às minhas mãos
o caminho do teu corpo.

Faz com que subam
às pequenas colinas
onde a luz indecisa
se demora pela manhã.

Cegas, descobrirão
o delírio da água
na fonte incendiada.

António José Queirós

Monday, October 09, 2006

à tarde


(C) TCA

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Quando escorrem as horas
clarificam-se os contornos
e a bruma do olhar.
Reacendem-se, então, os momentos
desfasados únicos
invadindo as fronteiras
afunilando o dia
e o desnorte.

Ciclicamente o por-do-sol acenderá
o campo de papoilas.

Na quietude da tarde, Helena F. Monteiro, Linha de Cabotagem

Sunday, October 01, 2006

the night is ours


(C) TCA


- your drawings always have a sexual undertone...
- go on then, what should i say about this one?
- speak of the love between friends. i think that we speak too much of the love between lovers and downplay the other form of love.
- ...
- perhaps because we are afraid.