Sunday, October 29, 2006
enganar a dor
(C) TCA
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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Autopsicografia, Fernando Pessoa
Saturday, October 28, 2006
Monday, October 23, 2006
vulva
(C) TCA
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O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.
Cosmocópula, Natália Correia
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(C) TCA
Monday, October 16, 2006
aprende-me
Monday, October 09, 2006
à tarde
(C) TCA
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Quando escorrem as horas
clarificam-se os contornos
e a bruma do olhar.
Reacendem-se, então, os momentos
desfasados únicos
invadindo as fronteiras
afunilando o dia
e o desnorte.
Ciclicamente o por-do-sol acenderá
o campo de papoilas.
Na quietude da tarde, Helena F. Monteiro, Linha de Cabotagem
Sunday, October 01, 2006
the night is ours
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