Friday, March 31, 2006

verde saphira


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(...)
Aqui na aldeia não nos falta nada
os aloés têm uma tesão enorme e na pontinha mais alta da quase glande abrem-se em beijinhos de língua e esperma de seiva.os aloés são curativos. Aqui na aldeia à beira do mar os aloés andam aos pares. E crescem em danger nas arribas que derrocam derrocam derrocam.
Um dia vou beber-lhes o suco todo gota a gota. Para curar o cancro da alma e ter essa tesão desmesurada que faz a gente crescer crescer crescer mesma à beirinha do mar nas arribas em derrocada a dar beijinhos de língua e a gritar uma folha gorda gorda gorda de inchada alegria verde.

Monto-te que é quase o mesmo que te comer. Ou beber os sucos. Vamos?
Até à eternidade? Esse tempo tão alongado, interstícios de salivas e esperma, luas de conas e caralhos que fendem acima como abaixo o lugar comum de deus? Que outro nome
Dar a foder? Nenhum desoculta tão perfeitamente a vontade
Os corpos, e eu, e a falta de deus e digo
: é primavera
fodo ainda mais.
(...)

ler todo o "sujeito a tributação" de blimunda no ante mare, undae

Friday, March 24, 2006

o pequeno ácaro


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I

o pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta
que nascem grandes
e
filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos palmos,
diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho em
ser
o pequeno filho-da-puta.

todos
os grandes filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.
(...)

balada ditirâmbica do pequeno e do grande filho-da-puta, alberto pimenta

Tuesday, March 21, 2006

primavera


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hoje és primavera

renasceste sob mim
nesta manhã de maio
tronco de árvore em arco
coxas e dentes cerrados
marcas de lábios gemidos

debruçado por ti
encharcado em fios suados
fatigado na fadiga cansada
lascivo na carne serena

hoje és poesia

moldado nos braços e ouvido
descrevi sentidos de ternura
montanhas de neve eterna
regatos frescos de verdura
acariciei em círculos ternos
estreitei dedos afilados
aplanei mãos em palmas
torneei faces rosadas

olhei-te
terias adormecido
calei e deixei de te roçar
de novo um sorriso e repetiste

sonhei com o paraíso

respiração profunda
recostei-me no teu braço
adormeci

nesta manhã
nasceu a primavera e uma árvore
e ao meu bom dia
saudaste
fértil manhã
de vinte-e-um de março

daniel, 21 de março, brincos de palavra

Tuesday, March 14, 2006

something missing


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como me angustia
esse projeto
de interior
precário

depois que a vida
saiu
sem explicações
e
sem mandar flores

"design" Geórgia; Ponto Gê

Friday, March 10, 2006

spring heat


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Anda no ar a excitação
de seios subito exibidos
à torva luz de um alçapão,
por onde os corpos rolarão,
mordidos!

Ou é um deus, oi foi a Morte
que nos vestiu este torpor;
e a Primavera é um chicote,
abrindo as veias e o decote
ao meu amor!

Esqueço que os dedos têm ossos:
é só de sangue esta caricia;
apenas nervos os pescoços...
Mas nos teus olhos, nos meus olhos,
a luz da morte brilha.

Canção primaveril, David Mourão Ferreira

Monday, March 06, 2006

desconsolo à mesa


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tarde
agosto
sufoco imposto

servi-te
pão quente
fresco e túmido
em mesa aberta
sem coberta

sôfrego
dedos em riste
faca sem gume
untaste a fenda
sem viço
como de costume
com manteiga
sem chouriço

tu
tragaste
desalmadamente

eu
bebi num ápice
gotas de leite requentado

merenda?
merda!

merenda, anna sant'iago. brincos de palavra