Monday, November 28, 2005

cronaím thú


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Sejam as mulheres como as rosas
ou como as aquarelas,
quando estão conosco, quando não,
quando vibram, quando alegram,
quando doem, quando vêm e quando vão,
quando sobem as ladeiras,
quando descem passarelas.

Tragam com elas os incorruptíveis
sinais da beleza, ainda que se saiba
impossível sua erupção
fora da alma feminina, do corpo da mulher,
esse vulcão que trabalha nosso desatino,
faz a nossa inelutável rendição.

Ainda que se pense em mar, em céu,
no incrível arco multicor, no ar
que impregna a flora e balança
os frutos verdes após a chuva.

E até no rodopio do ciclone,
que louva Deus bailando
sua aterradora e tresloucada dança,
nas noites austrais, nas auroras boreais,
numa explosão de luzes no setentrião.

Nada disso ou tudo isso sequer
supera uma lembrança de mulher.

Fora de seu riso e de seu colo,
não há razão de ser, nem como florescer
a magia, a poesia, o êxtase, a canção.

Chame-se então deslumbramento
a essa compulsória devoção.
E nesse diapasão lírico,
celebro as que se foram,
cuja ausência confrange o coração,
as que esperam e acenam da janela, aquelas
que virão mitigar a dor de existir,
reinventar a fúria sagrada do amor.

As que passam majestáticas
e a gente acompanha com o olhar refém.
Aquelas que apesar de entusiasmo e de desvelo
só nos dão o seu desdém.

As que não são vilãs, nem heroínas,
nem escravas, nem rainhas, nem fundamentais;
algo mais que a sina feminina
ou a maioridade que a elas se negou.
Não se diga “é bela esta mulher”
porém bonita sua própria condição.

Surpreendam sempre como o plenilúnio,
o arco-íris, o solstício de verão,
Não falte nesse comovido poema
uma voz aveludada, uma mecha de cabelo,
os opulentos seios das hollywoodianas,
as pernas de garça das nordestinas,
a imensa tristeza das chinesas de pés pequenos.

Dê-se às mulheres o leme do mundo, deixem-nas
recuperar o sentido perdido da ternura,
apontar um outro rumo, à margem
da brutalidade, da carnificina masculina,
uma trégua para repensar se vale a pena
parir e amamentar mísseis e canhões.

Dê-se a elas o sonho do homem e grande
e do menino; dê-se às mulheres-mães o direito
de intervir no conselho de guerra das nações,
o direito de escolha além da irracionalidade viril
e da imbecil mutilação dos homens tolos.

Que além de toda dor e corrupção
cinja-se o corpo da mulher
ao corpo do poema, e de ambos
não se aparte a beleza suprema.

Vão é vosso esmero, estilistas da confecção!
Esse corpo de mulher, divino e magistral,
só precisa de raio solar, folha de parreira.

Mas dê-se a elas bons frascos de perfume,
batons variegados, provocantes lingeries,
vestidos de organdi.
Dê-se a elas inclusive a ilusão
de que precisam de séquito, vestais,
de algo mais que a generosidade
de suas curvas, que a seda de suas peles.

Deixem-nas pensar que podem superar
a grandeza de sua própria criação.

Sejam bem amadas as amantes,
orquestrados com cuidado seus suspiros
inebriados, os frágeis cristais e os apelos
de sua carne insaciada.

Sejam os rompantes das mal amadas
amparados com carícias em dosséis
e o fogo que elas trazem represado
arda nos flancos, ao galope dos corcéis.

Sejam como as rosas abertas,
cintilantes, despudoradas, acesas
ou como aquelas fechadas,
grávidas de promessas e belezas.

Sejam gráceis, redentoras.
Sejam salvação.

Redentoras - Erorci Santana

Tuesday, November 22, 2005

amor e tentação


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Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Lettera Amorosa - Eugénio de Andrade

Thursday, November 17, 2005

feeling blue

povo que lavas no rio

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Estão cigarros finos entrelaçados
em ancas desvalidas.
Abre-se num tormento vadio
o fôlego desventurado. É dia
de
finados.
Calceteiros ambulantes carregam
estradas dentro dos olhos.
Amargurados.
Balançam as correntes. Gritos desesperados
ecoam do lado de lá.
Ainda é cedo.
Não
fiques desassossego.

"desassossego" a azul, cem truques; parabens!

Wednesday, November 16, 2005

all my loving

P: gostas de mim?
R:

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Dedilhar
Os teus contornos
Com o toque da suavidade
Das pétalas de Maio
Dispersas pelos prados da vontade.

Beijar-te
Com lágrimas de sorriso
Expressões únicas de chama
Beijar-te,
Como se beija e deseja
O regresso de quem se ama.

Viver em ti.
Viver para ti.
Morrer
Se necessário
Por ti.
E renascer
Para não te perder.

"entrega" de luís miguel em vertentes

Monday, November 14, 2005

no silêncio da madrugada


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Que noite quieta e escura...
Nem as estrelas brilham.
Não se vê a Lua
e as árvores, paradas,
dizem que o vento hoje não passa por aqui.

No silêncio da madrugada ténue,
ao longo do olhar que lanço
ora no céu infinito,
ora no fundo de mim,
descubro o mesmo cansaço deste sossego tão manso.

Porque não há ventania,
chuva grossa, em revoadas,
nem piam aves nocturnas;
rompo eu em gargalhadas
e rasgo de uma só vez toda esta melancolia.

© Fata Morgana, Riso da Mente

Wednesday, November 09, 2005

desejos


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Sem pecado, sem querer perdão
Desejo puro sem obrigação
paixão inteira sem senão
Perde-te, entrega-te, violenta-me com tesão

Não quero saber, nem pensar
Sinto a tua falta, tenho o corpo a latejar
Vem ama-me, rasga-me sem pesar
Tenho fome de ti, sede do teu sabor, quero o teu ar

Desliza as tuas mãos no corpo que sem ti é dor
Morde a polpa de cada milímetro de mim sem dó e com ardor
Invade o meu corpo sem duvidas, a ti o entrego sem temor
Vem, não penses, dá-me tudo agora e depois o teu amor.

Diana D'Orey

Monday, November 07, 2005

reflexos


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Aos cinquenta anos dei por mim a fumar ao espelho e a perguntar E agora, José. Fumar ao espelho, qualquer José sabe isso, é confrontarmo-nos com o nosso rosto mais quotidiano e mais pensado. Por trás, em fundo, tem-se um cenário do presente imediato (a porta do quarto, um cabide vazio) mas esse presente, logo à segunda fumaça já é passado (a porta desfez-se, o cabide voou) e tanto mais passado quanto mais mergulhamos no cigarro. O olhar envelheceu, foi o que foi.
E então, por mais que a gente diga que não, começam a aparecer as pegadas históricas do Dinossauro que nos andou a foder a vida durante cinquenta anos. Adivinhamo-las à super-superfície do vidro, são manchas fósseis, gretadas, então não se vê logo?, e, escuta à distância, ouve-se o carrossel do medo. Aqui e ali vão-se levantando farrapos do muito que em nós se adiou e do muito que em nós se morreu, e nalguns casos podemos até distinguir o traço de liberdade que abrimos com os nossos livros nessa desolação prolongada. Pronto, estamos feitos, José. De agora em diante começa o rememorar, devias saber.

fumar ao espelho; josé cardoso pires


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Thursday, November 03, 2005

cry me a river


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Caminhei sobre o mar
sonhei hoje
cruzei terras e céus
abraçando nuvens e desejos
crianças e poetas
esquecendo pecados meus
calei choros e soluços
converti-os
em sorrisos e gargalhadas
ah! se eu pudesse
flutuaria
dançando valsas
sem tropeçar nos teus pés

eu mais leve
o mundo também

"caminhada" na desfolhada

Tuesday, November 01, 2005

natureza humana


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natureza mãe
deusa fértil
origem e matriz
no teu corpo rocha
protege-me do agreste
sopro da vida
mata-me a sede
de água sem mancha
embala-me o sono
limpo de angústia
encerra-me em ti.
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Quero-te, sem dúvida,
na incerteza de te querer.
Quero-te na orla afiada
da palavra que te envolve
e em arco me alcança.
Quero-te sem que a certeza
me atinja e me descanse.
Quero-te, sem dúvida.

"oração" e "será" - poemas de lique, mulher dos 50 aos 60